Um estudo multicêntrico atual em seis hospitais universitários avalia se o ultrassom com contraste e alta taxa de quadros (HiFR CEUS) pode distinguir com mais precis?o do que os métodos convencionais de ultrassom pequenos hepatocarcinomas de outras pequenas les?es hepáticas.
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O ultrassom com contraste (CEUS, na sigla em inglês) é um campo muito din?mico, e, nos últimos anos, as inova??es tecnológicas aumentaram ainda mais a qualidade da imagem. Uma dessas inova??es é o ultrassom com contraste e alta taxa de quadros (HiFR CEUS, na sigla em inglês) que pode gerar até dez vezes mais imagens do que o ultrassom convencional no mesmo tempo. Pesquisadores em sete centros na Alemanha, Suí?a e China est?o avaliando a eficácia do HiFR CEUS no diagnóstico de pequenas les?es hepáticas. A Prof.? Dr.? Yi Dong do Departamento de Ultrassonografia, Hospital Xinhua, Escola de Medicina da Universidade Jiaotong de Xangai, e o Prof. Dr. Christoph F Dietrich, Departamento de Medicina Interna Geral, Hirslanden Bern, Suí?a, explicam os antecedentes e os objetivos do estudo.
Yi Dong: “O objetivo principal é o diagnóstico mais preciso de les?es hepáticas focais com di?metro inferior a 3?cm em pacientes com e sem cirrose hepática. Estudos anteriores mostraram que o HiFR CEUS visualiza muito bem os padr?es e a morfologia dos vasos em tais les?es. Esperamos que o HiFR CEUS ofere?a melhor resolu??o temporal e espacial, isto é, imagens de maior qualidade de les?es hepáticas muito pequenas. Isso aumentaria a confian?a na caracteriza??o e no diagnóstico dessas les?es. Pesquisas anteriores sobre o hepatocarcinoma (CHC) descobriram que existe muita diferen?a se as pequenas les?es est?o localizadas no cirrótico ou no fundo saudável do fígado.”
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Christoph Dietrich: “Os pacientes com cirrose hepática têm um risco muito aumentado de desenvolver CHC. Tumores maiores que 30?mm em pacientes com cirrose hepática s?o muito provavelmente CHC. Se o di?metro da les?o for de apenas 12?mm, a probabilidade de CHC é de 50%. Consequentemente, a caracteriza??o de pequenos tumores é mais importante do que a de tumores maiores, uma vez que estes provavelmente s?o CHC, ou outros diagnósticos diferenciais produziram resultados inequívocos. Enquanto na maioria dos casos o CHC pode ser removido cirurgicamente ou ablacionado, a cirurgia geralmente n?o é indicada para outros tumores hepáticos. Nosso objetivo é garantir que nenhum paciente com um tumor benigno ou maligno diferente de CHC seja submetido a uma cirurgia desnecessária.”
Christoph Dietrich: “A fim de determinar se a cirurgia tumoral é indicada, é realizada uma tomografia PET-CT do pesco?o à pélvis, o chamado estadiamento. Na oncologia, o ultrassom n?o oferece o mesmo desempenho da TC porque, entre outras raz?es, n?o consegue penetrar o pulm?o. A TC pode ser ligeiramente inferior ao ultrassom para certos exames dos órg?os abdominais, mas é o método de escolha baseado em evidências e, nesse contexto, um procedimento completo. Em nosso estudo, usamos o HiFR CEUS no topo para ver se o ultrassom produz informa??es adicionais relevantes. Se as evidências científicas demonstrarem que o HiFR CEUS pode classificar pequenas les?es melhor do que o exame atual de TC/IRM, o tratamento do paciente será melhorado e a cirurgia supérflua poderá ser evitada.”
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Yi Dong: “Esperamos que o HiFR CEUS tenha um desempenho superior ao do CEUS convencional no diagnóstico de les?es hepáticas focais no que diz respeito à precis?o, sensibilidade e especificidade diagnóstica. No estudo, comparamos diretamente os dois métodos de imagem. Entretanto, n?o pretendemos apenas mostrar que o HiFR CEUS é superior ao CEUSconvencional, queremos também identificar os pontos fortes de cada um desses dois métodos.”
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Christoph Dietrich: “N?o importa se a taxa de quadros é alta ou baixa, o CEUS oferece uma vantagem crucial: ele é estritamente intravascular. Enquanto os agentes de contraste de TC est?o ativos fora dos vasos sanguíneos, os agentes de contraste do ultrassom mostram apenas a vasculatura.”
Yi Dong: “Em sistemas convencionais de ultrassom, a taxa de quadros em imagens n?o-cardíacas com contraste é de cerca de dez quadros por segundo. O sistema HiFR CEUS que utilizamos, Mindray Resona 9, é muito mais rápido: ele pode gerar até 100 imagens por segundo. Uma taxa de quadros t?o alta oferece uma melhor visualiza??o da morfologia vascular e mostra detalhes de perfus?o microvascular e melhor rastreamento do movimento. Em resumo: melhora a eficiência diagnóstica do CEUS. Em nosso estudo, nos concentraremos na arquitetura vascular durante a fase arterial do CEUS, a fase inicial de lavagem, o tempo de realce do contraste, a elimina??o e os padr?es relevantes.”
Christoph Dietrich: “Aproximadamente 70% do fluxo total do sangue hepático passa pela veia porta, que transporta nutrientes e produtos metabólicos do trato gastrointestinal e toxinas para a desintoxica??o no fígado. O sangue arterial também fornece 30% do oxigênio. A ultrassonografia hepática com contraste utiliza assim a fase arterial bem como a fase da veia porta para gerar imagens. Em um fígado com cirrose, a veia porta é danificada e o sangue n?o pode mais ser desintoxicado. Assim, em rela??o à imagem, a fase da veia porta oferece menos informa??es. Portanto, nosso estudo se concentrará na fase arterial. Devido à alta taxa de quadros, um grande volume de dados relevantes é adquirido apesar de a fase da veia porta ser desconsiderada. ? como uma rede de pesca: quanto mais apertada for a trama da rede, mais peixes se pode pescar. Com rela??o à imagem: quanto maior a densidade da linha, maior a resolu??o. Mais tumores s?o capturados e podem ser tratados de acordo com as diretrizes médicas atuais.”
Yi Dong: “Usamos um pacote de software específico chamado VueBox para realizar uma análise quantitativa dos dados. Isso nos permite capturar a curva de intensidade de tempo e fornecer par?metros quantitativos para diagnósticos futuros. Esperamos que essas análises quantitativas nos permitam detectar pequenas les?es mais cedo.”
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Christoph Dietrich: “A quantifica??o da cinética de aprimoramento é uma ferramenta promissora para tornar a imagem mais objetiva. Afinal, os números fornecem mais informa??es que os meros graus de brilho que s?o visíveis durante o aprimoramento e a lavagem do agente de contraste.”
Yi Dong: “O HiFR CEUS pode ajudar no diagnóstico de pequenas les?es da mama ou da tireoide e das perfus?es microvasculares dos vasos que alimentam a carótida.”
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Christoph Dietrich: “O que dissemos anteriormente sobre o fígado também se aplica a outros órg?os: quanto menor a les?o, maior a probabilidade de que seja um tumor benigno ou um tipo diferente de tumor maligno. No entanto, o método n?o pode ser transferido para outros órg?os da mesma forma. Cada órg?o tem suas próprias regras.”
Agrade?o muito por esta entrevista.
Perfis:
Professora Dong Yi, MD, PhD e Chefe do Departamento de Ultrassonografia do Hospital Xinhua, Escola de Medicina da Universidade Jiaotong de Xangai. Ela atua como vice-presidente do Comitê da Juventude, da Sociedade Chinesa de Ultrassonografia na Medicina (CSUM) e da Sociedade de Ultrassonografia na Medicina de Xangai. Como membro do Grupo de Especialistas em Diretrizes e Boas Práticas Clínicas, ela foi coautora de recomenda??es para ultrassom com contraste (CEUS) no fígado (atualizado em 2020) para a WFUMB em coopera??o com a EFSUMB, AFSUMB, AIUM, e FLAUS. Dong Yi foi pesquisadora de pós-doutorado no Massachusetts General Hospital, Harvard Medical School, EUA, e pesquisadora na Pavia University, Itália, e no Caritas Hospital, Bad Mergentheim, Alemanha.
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Professor Dr. med. Christoph Frank Dietrich, MBA, é chefe do Departamento Médico do Hirslanden Kliniken Beau Site, Salem e Permanence, Suí?a. Ele é professor honoris causa na Universidade de Zhengzhou, China. Ele se especializou em medicina interna (1997), gastroenterologia e hepatologia (2000), incluindo a bolsa em gastroenterologia (EBG), pneumologia (2002), hematologia e oncologia (2008), proctologia (2009), medicina paliativa (2009) e medicina geriátrica (2009). Ele atuou como Secretário Honorário da EFSUMB de 2007 a 2011. Ele foi presidente da Federa??o Europeia de Sociedades de Medicina e Biologia por Ultrassom (EFSUMB, 2013-2015) e foi vice-presidente da Federa??o Mundial de Ultrassom em Medicina e Biologia (WFUMB) de 2017 a 2019. Sua carreira acadêmica está focada na endoscopia e na ultrassonografia. Ele publicou mais de 1100 artigos científicos e capítulos de livros.